“Você não acha que para amar precisamos amar a nós mesmos primeiro? Lou Salomé sempre coloca no seus textos que o amor não são duas metades, mas duas pessoas inteiras que se encontram, que o amor nunca é chegar, mas estar perto, que é sempre uma busca e dá sentido à vida. Ela fala que devemos amar a vida acima de tudo. Gostaria muito que você falasse sobre esse amor, sobre a conexão com a finitude, nossa breve passagem pela vida.” (Joana, São Paulo)
Toda luz anuncia a existência da sombra, sem a qual não seria posssível discernir a luz. Joana intui que o amor é a fonte e o objetivo de toda vida. Ainda que não o veja, nem ela nem ninguém duvida da existência do amor. Pois o amor quer ser vivenciado. Ele está ausente e presente desde o início. Cada movimento é ao mesmo tempo desejo e busca de amor. E a experiência do amor envolve, inevitavelmente, o desamor. O prazer e a dor, a vida e a morte se alternam, se fundem e confundem em uma coreografia ímpar em cada indivíduo.
O filósofo André Compte-Sponville fala de três tipos de amor: “Eros, philia, ágape: o amor que toma, que só sabe gozar ou sofrer, possuir ou perder; o amor que se regozija e compartilha, que quer bem a quem nos faz bem; enfim, o amor que aceita e protege, que dá e se entrega, que nem precisa mais ser amado...” Dizer que apenas um deles é amor seria limitar o ilimitado.
Hoje a carta de tarô para Joana é o cinco de copas. Aqui as taças estão vazias, o pentagrama está invertido. A perda deixou rastros de decepção e dor. Uma parte da alma ainda está de luto e chora, se sente abandonada, se sente culpada pelos aparentes fracassos do caminho, e tem medo de arriscar e errar novamente. A decepção é uma estrela de cabeça para baixo, mas não deixa de ser uma estrela. É preciso sentar nesta dor, conhecê-la profundamente, para que ela possa se abrir em flor.
No primero semestre de 2009, eu não conseguia escrever. Estava bloqueada. O meu segundo retiro de dez dias de meditação de silêncio foi dedicado à dor que eu estava sentindo na época. Pelo menos uma vez na minha vida, achei que era importante parar e olhar para a minha dor, já que ela sempre voltava a se manifestar de diferentes formas e fazia parte de minha existência. No momento em que entrei em contato profundo com ela, algo que antes estava represado se soltou. Pouco a pouco, o amor voltou a transbordar. Depois disso, fiz minha segunda peregrinação de 800 quilômetros e escrevi dois livros.
Joana me lembra uma frase de Rumi, um poeta persa que viveu no século XIII, que diz: “A sua tarefa não é buscar amor, mas simplesmente buscar e achar todas as barreiras que você construiu dentro de você e que impedem o seu amor de fluir”.
Antonella Yllana é autora de seis livros, sendo que um deles, “A Ciência da Paixão”,
teve vários trechos citados no livro 11 minutos, de Paulo Coelho.
Facebook: Antonella Yllana
www.antonellayllana.com
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