Não sei bem quando
começou tudo isso. Aos 42 anos, sabia que em breve não poderia mais ser mãe.
Florencio e eu passamos anos falando sobre os prós e contras da possibilidade
de ter filhos. Para nós, havia bem mais contras do que prós. No entanto, também
foi assim quando decidimos nos casar ou antes de tomar várias decisões em minha
vida. Como quando decidi viajar e escrever ao invés de cursar a universidade,
por exemplo. Porém, posso dizer que poucas vezes eu me arrependi de minhas
loucuras. Talvez todo mundo diga isso. Afinal, não adianta muito se
arrepender...
Nunca tive muitas
ilusões em relação ao casamento e à vida em família, talvez porque a minha
própria família não tenha sido exatamente tradicional. Não fui uma daquelas
mulheres que quer casar a qualquer custo e sai por aí buscando alguém para
isso. Eu sabia apenas que um dia eu viveria uma grande história de amor. Vendi
os direitos autorais de um de meus livros, fui viver em Paris e me apaixonei.
Com Florencio, eu me senti em casa. O casamento foi apenas uma consequência
natural, um resultado romântico do amor. No entanto, eu estava bastante
consciente do que significava ficar com alguém “na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença”. Eu não estava comprando um pacote de êxtase. Eu estava investindo
em um projeto a longo prazo que, com um pouco de sorte, me traria uma
compreensão mais vasta do que é o amor incondicional.
Ou seja, nunca fiz
decisões apenas racionais. Florencio e eu estamos juntos há doze anos. Eu usava
DIU há quase dez anos. De qualquer maneira, tinha que tirá- lo ou trocá-lo. Na
maior parte de minha vida, quando as pessoas me perguntavam se eu queria ter
filhos, sempre dizia não. Ultimamente, eu respondia: sim e não. Ter filhos não
era o meu sonho. Acreditei por muito tempo que nunca os teria. Jamais fiquei
ninando secretamente um travesseiro, sonhando que fosse um bebezinho. Tenho
muitas amigas que são assim e fariam qualquer coisa para ser mães. Algumas
delas chegaram até mesmo a contrair dívidas astronômicas para pagar os
tratamentos necessários a uma fertilização in vitro. Elas engravidaram,
sofreram abortos espontâneos algumas vezes, quase chegando à loucura, mas
continuaram a tentar e nunca desistiram de seu sonho.
Hoje em dia, têm lindos
filhos e dívidas ainda astronômicas. Eu as admiro muito por sua tenacidade em
conseguir o que querem. Definitivamente, este não é o meu caso. Ainda assim,
decidi me abrir à possibilidade da maternidade.
Sou escritora e minha
maior inspiração e fonte de estudos é a própria vida. Aos poucos, compreendi
que não havia melhor oportunidade para desabrochar e estudar a vida do que
gerá-la em meu próprio corpo. Eu havia feito um aborto anos atrás. Na época,
neguei a gravidez, pois não me sentia preparada.
Entretanto, em 2014
comecei a me perguntar seriamente se deveria dar uma segunda chance à
maternidade, caso ela quisesse se manifestar através de mim. Afinal, eu havia
feito todas as loucuras que queria fazer até então. Cheguei à conclusão que
estava na hora de vivenciar um novo tipo de loucura. Tirei o DIU e não o
substituí por nenhum outro método contraceptivo. Uma coisa era certa: se eu não
engravidasse, jamais faria tratamentos químicos traumáticos. Há pessoas demais
neste planeta e eu não tinha a mínima vontade de forçar o meu corpo a fazer
algo que ele naturalmente não queria mais fazer.
Este mês, depois de
seis meses sem sinal de gravidez, minha acupunturista e grande amiga sugeriu
que eu fizesse um tratamento com a medicina chinesa para energizar o sistema
reprodutor. Não botei muita fé, mas resolvi fazer só para não dizer que não fiz
nada. Fiz apenas duas sessões. Engravidei. Começou uma das maiores aventuras de
toda a minha vida.
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