Rito de Passagem
Carta de leitora - “Antonella, você poderia me indicar algum rito de passagem para uma outra realidade? Sinto-me triste, querendo fugir, fico desesperada por revolução, união e mudanças de verdade... Não sei como fazer direito e isso me aflige, mas Deus vai me mostrar o caminho! Desejo muito que você escreva sobre isso e possa me responder! (Mariana, São Paulo)”
Ao ler o e-mail de Mariana, pensei que todos nós passamos por momentos nos quais desejamos desaparecer para não ter que lidar com momentos difíceis. Queremos fugir para “outra realidade”. Mas há também algo mais profundo, que tem a ver com um desejo de transcendência, inerente à experiência humana. A palavra transcender vem do latim “transcendere” e se refere à superação. O bebê não tem medo de cair, ele quer andar, correr e pular, ele precisa diariamente de novos desafios. Existe um anseio latente dentro de cada um de nós, um desejo constante de ir mais além. No entanto, às vezes fica muito difícil reconhecer este chamado. O que fazer, por onde ir, o que escolher? Essas perguntas torturantes nos assombram em um mundo cheio de ilusões, no qual temos acesso a muitas informações, mas não conseguimos enxergar o melhor caminho.
Pessoalmente, conheço muito bem o sentimento de Mariana. Aos vinte e poucos anos, entrei em profunda depressão. Queria ir ao médico, recorrer a remédios. Apenas não o fiz porque uma pessoa que eu amava muito me disse: “Você não vai tomar remédios. Você tem que encontrar Deus dentro de você.” Eu não tinha religião, não sabia o que isso queria dizer. A vida estava acontecendo em mim e à minha volta e ela superava a minha compreensão. Deus era o mistério. Entendi que eu precisava entrar em contato com aquilo. Apenas o caminho espiritual me ajudou a ir além do desespero que muitas vezes tomava conta de mim. Pouco a pouco, brotou uma força interna que eu não sabia ter antes.
Hoje tirei uma carta de tarô para Mariana. Saiu o três de ouros. Esta carta fala da necessidade de trabalhar ao mesmo tempo o corpo, a mente e o espírito. Às vezes ficamos presos e perdemos muito tempo nos preocupando apenas com o aspecto material e nos esquecemos de dar atenção às outras dimensões de nossa existência. Ouvimos da sociedade que dinheiro é tudo, que apenas ele pode nos libertar, mas acabamos sendo escravos dele. Mariana poderia reunir um grupo de amigas, conversar com elas sobre as suas dificuldades. Pesquisar e fazer com elas um ritual de Lua Cheia para entrar em contato com aquele tipo de prosperidade que abrange todas as áreas da vida. Criar um pequeno altar em sua casa, um símbolo do sagrado, do espaço “quântico”, no qual residem as infinitas possibilidades e as melhores respostas. Abrir-se a ele. Sentar e acender uma vela, oferecer diariamente um pouco de seu tempo e sua atenção para aquilo que realmente é essencial. Como já dizia Clarice Lispector, não queremos necessariamente mudar as coisas. O que queremos mesmo é desabrochar.
“Esse é um espaço interativo no qual responderei a cartas e perguntas de leitores ou buscadores sobre amor, sexo e espiritualidade. É claro que preservarei o anonimato daqueles que me escreverem. Usarei cartas de tarô, trechos de livros, poemas, filmes, experiências pessoais ou alheias para ilustrar as respostas. A intenção da coluna não será trazer respostas definitivas. Vindas de fora, de outras pessoas ou de qualquer lugar que não seja o coração, essas respostas geralmente são as que mais nos limitam. Aqui você e eu abriremos um espaço de reflexão conjunta para que o amor consiga sempre nos mostrar novos caminhos.” Escreva um parágrafo explicando um pouco da sua história e envie para: antonellayllana@gmail.com
Antonella Yllana é autora de seis livros, sendo que um deles, “A Ciência da Paixão”, teve vários trechos citados no livro 11 minutos, de Paulo Coelho.
Facebook: Antonella Yllana
www.antonellayllana.com
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